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Mãe Alerta Sobre os Riscos do Vape Após a Morte do Filho aos 20 Anos

 A morte de um jovem de 20 anos reacendeu o alerta sobre os perigos do cigarro eletrônico, popularmente conhecido como vape. O jovem, cujo nome não foi revelado, apresentou complicações respiratórias severas, e sua mãe acredita que o uso do dispositivo tenha contribuído para o desfecho trágico.

Fred Fernandes, médico e diretor da Sociedade Paulista de Pneumologia, explicou que o caso pode estar relacionado à EVALI (Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarros Eletrônicos), uma condição descrita pela primeira vez em 2019 nos Estados Unidos. Segundo ele, a análise de imagens do pulmão do jovem sugere uma inflamação severa, comum em quadros de EVALI. “No raio-X, o pulmão deveria aparecer todo preto, pois é repleto de ar. Com a EVALI, há consolidações, onde os alvéolos  responsáveis pela troca de oxigênio  ficam preenchidos por material inflamatório, impedindo a troca gasosa adequada”, explica Fernandes.

Essa condição pode evoluir rapidamente, resultando em danos permanentes e até mesmo fibrose pulmonar, uma cicatrização que compromete a função respiratória. Em casos extremos, pode ser necessário um transplante de pulmão.

O Perigo Oculto do Vape

A EVALI foi identificada após um aumento de internações de jovens nos Estados Unidos, apresentando sintomas como falta de ar, tosse, dor no peito, febre e perda de peso. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) norte-americano identificou a relação com o uso de cigarros eletrônicos, muitos contendo acetato de vitamina E, substância diretamente ligada aos casos iniciais. Embora essa substância tenha sido removida de muitas formulações, outras substâncias tóxicas continuam a causar danos a longo prazo.

Estudos apontam que, embora o acetato de vitamina E tenha sido eliminado, os riscos associados ao uso do vape permanecem. Segundo Fernandes, o uso contínuo de substâncias tóxicas nos líquidos dos cigarros eletrônicos ainda coloca em risco a saúde de milhares de usuários, principalmente jovens.

Estudos Reforçam os Riscos

Um estudo da Vigilância Sanitária de São Paulo, em parceria com o Instituto do Coração (InCor) e a Faculdade de Medicina da USP, revelou que o vape pode causar até seis vezes mais intoxicação por nicotina do que o cigarro convencional. De acordo com Jaqueline Scholz, diretora do Núcleo de Tabagismo do InCor e coordenadora da pesquisa, “a intoxicação por nicotina em usuários de vape é tão alta quanto, ou até pior, que nos fumantes de cigarros tradicionais. Além disso, há uma clara falta de conhecimento sobre os riscos de dependência entre os mais jovens.”

A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) destaca que não existe uma quantidade segura para o consumo de nicotina. Enquanto um cigarro comum contém cerca de 1 mg de nicotina, a carga de um cigarro eletrônico pode chegar a 50 mg, o equivalente a fumar 50 cigarros em um único dia. “Essa alta concentração de nicotina pode criar uma dependência muito mais rápida e severa, principalmente entre jovens”, alerta Margareth Dalcolmo, pneumologista e presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT).

Vape: Uma “Invenção Diabólica”

O uso de cigarros eletrônicos entre jovens tem sido uma grande preocupação de especialistas. Segundo Dalcolmo, dispositivos como o vape estão causando uma dependência precoce em adolescentes e jovens adultos, com muitos deles apresentando sérios problemas respiratórios antes dos 30 anos, algo que normalmente só seria visto em fumantes após décadas de consumo de cigarros convencionais.

Além disso, o uso combinado de cigarros convencionais e eletrônicos tem se tornado comum, aumentando ainda mais os riscos. Fred Fernandes alerta: “Muitos começam a usar o vape na tentativa de parar de fumar, mas acabam utilizando os dois. Essa combinação é extremamente perigosa, elevando ainda mais o risco de problemas cardiorrespiratórios.”

Um Alerta Para a Nova Geração

A mãe do jovem falecido reforça o pedido de conscientização sobre o uso de vapes. “O cigarro eletrônico pode não ter sido a causa direta da morte do meu filho, mas certamente comprometeu seu pulmão e o impediu de reagir a uma infecção bacteriana”, lamenta. Especialistas continuam a alertar sobre os riscos desconhecidos e a rápida disseminação desses dispositivos, especialmente entre os jovens, que muitas vezes desconhecem as graves consequências do uso prolongado.

Com uma crescente epidemia silenciosa entre os mais jovens, o cigarro eletrônico já se configura como uma das maiores ameaças à saúde pública deste século.

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