Mauro Cid detalha em delação suposta trama golpista, joias sauditas e “gabinete do ódio” ligado a Bolsonaro
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, derrubou nesta quarta-feira (19) o sigilo da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid. O depoimento levou à denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outras 33 pessoas por suposta tentativa de golpe de Estado. Além disso, Cid revelou detalhes sobre casos como as joias sauditas, adulterações em carteiras de vacinação e o chamado “gabinete do ódio”. Em troca da colaboração, ele receberá benefícios como perdão judicial e garantia de segurança para si e sua família.
Na delação, Mauro Cid afirmou que a ordem para adulterar o estado de vacinação contra a covid-19 no cartão do ex-presidente e de sua filha, Laura Bolsonaro, partiu do próprio Bolsonaro. Segundo ele, o ex-assessor Max Guilherme de Moura e o capitão reformado Ailton Gonçalves Moraes Barros teriam contribuído para a inserção dos dados falsos. Os certificados adulterados foram impressos e entregues em mãos ao ex-presidente. No entanto, após o coronel Marcelo Câmara descobrir o fato, os documentos foram rasgados, e Cid foi instruído a reverter as alterações.
Cid também relatou que o ex-presidente nunca se vacinou e que a conta do ConecteSUS de Bolsonaro foi hackeada, mas recuperada no final de 2021 para a emissão de uma carteira de pesca. Ele assumiu a administração da conta a partir dessa data.
“Gabinete do ódio”
Sobre o chamado “gabinete do ódio”, Cid afirmou que não tinha proximidade com os responsáveis pelas mídias sociais de Bolsonaro. Segundo ele, os assessores Tercio Arnaud, José Mateus e outro identificado apenas como Mateus eram subordinados ao vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente. Cid descreveu que Carlos Bolsonaro ditava o conteúdo das redes sociais, enquanto o ex-presidente focava no Facebook. Os assessores monitoravam o engajamento e, em alguns casos, entravam em contato com influenciadores para replicar ideias ou direcionar narrativas.
Cid negou qualquer ligação do jornalista Allan dos Santos com o grupo e afirmou que pautas como o voto auditável eram demandas públicas de Bolsonaro.
Contato com hacker
Questionado sobre o envolvimento de Bolsonaro com hackers, Cid mencionou apenas o encontro com Walter Delgatti, marcado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP). Delgatti foi enviado ao Ministério da Defesa para explicar supostas vulnerabilidades das urnas eletrônicas. Cid afirmou que desconhece pagamentos ou contratações envolvendo Delgatti e negou conhecimento sobre um suposto grampo contra o ministro Alexandre de Moraes.
Joias sauditas
Sobre o caso das joias sauditas, Cid detalhou que o kit de joias em ouro branco e o relógio Rolex recebidos por Bolsonaro em 2019 foram encaminhados ao Gabinete de Documentação Histórica (GADH), que decidiu pelo acervo privado do ex-presidente. Posteriormente, Bolsonaro ordenou a venda dos itens.
Cid viajou aos Estados Unidos e vendeu os relógios por US 68 mil, depositados na conta de seu pai, o general Mauro Lourena Cid. As joias restantes foram vendidas em Miami por US 18 mil, em transação sem nota fiscal.
Após mudança no entendimento do Tribunal de Contas da União (TCU), Cid e o coronel Marcelo Câmara iniciaram tratativas para recuperar os itens. O relógio Rolex foi recomprado com a ajuda do advogado Frederick Wassef, enquanto as joias foram recompradas por US$ 35 mil em Miami.
A delação de Mauro Cid traz à tona detalhes que envolvem não apenas a suposta tentativa de golpe de Estado, mas também escândalos como as joias sauditas e a gestão das redes sociais de Bolsonaro. As informações devem alimentar os debates políticos e jurídicos nos próximos meses, enquanto as investigações avançam.
Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados